No meio da praça tinha um caminhão

Luiz Eduardo, de nove anos, era uma das muitas crianças que faziam fila na manhã do último domingo, dia 27. “Essa vai ser a sétima vez que eu vou!”. Assim como seus companheiros de fila, Luiz estava encantado com o caminhão que aportou na Praça de Chapada Gaúcha para o XIII Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas. O menino assistiria em seguida o vídeo “Socialismo e Anarquismo no Brasil”, uma produção de pouco mais de 10 minutos sobre o histórico dos movimentos libertários do campo no início da colonização do país. Mas a empolgação era digna de uma estreia de Hollywood. “Eu assisti filmes sobre Canudos, sobre índios, com coisas de outros países e de outros tempos”, ele conta. “Eu nunca tinha visto um caminhão igual a esse, com cinema, internet grátis e teatro.”

Provavelmente, Luiz não era o único que nunca havia visto coisa do tipo. O caminhão se abre em diversas portas, escadas e bandeirolas, tornando-se um espaço com duas salas de cinema, biblioteca, painéis gira-gira de personalidades históricas e cantinho de contação de histórias. Há pouco mais de um ano ele circula pelo país, com o objetivo de divulgar a memória da luta pela terra no Brasil. “Não existe sociedade democrática se as pessoas não se reconhecem em sua história”, explica Silvana Coser, coordenadora de produção do caminhão-museu. “O caminhão nasce com a missão de ir e vir, encantando as pessoas com a história das lutas do campo em um espaço de cultura e tecnologia”. A iniciativa é do Projeto República da UFMG, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Silvana conta que a população da Chapada foi bastante simpática e receptiva à chegada do caminhão. E a acolhida mais carinhosa foi das crianças, que, como Luiz, ocuparam o espaço em tempo integral durante o Encontro dos Povos. “Não tinha um espaço que não ficasse cheio. Eles estavam fascinados com a experiência do cinema e da tela interativa e circularam em todas as atividades”, relata a coordenadora, que, nos poucos intervalos, dava uma espiadinha na programação do Encontro. “Além da experiência dos caminhantes, que parece ter sido fantástica, me chamou muito a atenção o fluxo de gente nas rodas de conversa. Os debates avançavam no tempo e as pessoas permaneciam ali, participando”, ela comenta. Do alto de seus nove anos, Luiz Eduardo não estava muito no clima dos debates. Mas destaca as apresentações culturais, o corredor da história e a barraca dos brinquedos e brincadeiras como as coisas que mais gosta no Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas. E o caminhão, Luiz? Esse ano, também entrou na lista.