A sabedoria do sertão está viva na voz dos poetas, nos cordéis, e expressões artísticas de seu povo!
Seu Bauzinho nos presenteia, abaixo, com mais de um de suas joias.
Palavra por palavra, o sanfoneiro, poeta e compositor faz um apelo bem humorado e consciente sobre a atual realidade socioambiental da região do Rio Pandeiros e do norte mineiro:
APELO AOS PROMOTORES
É com lágrimas no olhar
Que hoje vou declamar
Meu poema de tristeza
Essa noite eu não dormi
Pensando, não resisti
No impacto da natureza
Faço apelo aos promotores
Que não deixem esses senhores
Desmatarem o nosso cerrado
Quero ver mais alegria
Para viver meu dia a dia
Sem estar preocupado
Ainda digo aos senhores
Que eles usam dois tratores
Arrastando um “correntão”
Tem uma tal de motosserra
Que é capaz de fazer guerra
É grande a destruição
Essas promessas de emprego
Muitas vezes causam medo
Porque tudo é falsidade
Se emprega 100 pessoas
Tem 500 famílias atoas
Mudando para a cidade
Chegam lá não tem emprego
Já acabou o seu sossego
Começa a virar bandido
E a vida logo chega ao fim
Porque se continuar assim
O Brasil está perdido
As firmas que aqui chegaram
Meteram a mão e desmataram
Escorraçando a bicharada
Aqui não deixou dinheiro
Até a usina de Pandeiros
Hoje está desativada
Eu tenho medo é do homem
Que não liga para a fome
Do nosso povo carente
É por isso que eu imploro
Porque nos reservatórios
Não tem água suficiente
As veredas estão secando
A natureza chorando
E o homem não faz nada
Mas você podem acreditar
Que a natureza vai cobrar
De quem faz as coisas erradas
Hoje eu vejo a passarada
Já não faz mais alvorada
Como era antigamente
Fizeram tantas queimadas
Que escorraçou a bicharada
E secou muitas nascentes
Aqui tem gente dando o grito
Chega de tanto eucalipto
Aqui em nossa região
Por isso eu digo aos senhores
Que só os nossos promotores
Podem ter a solução
Nós não temos advogados
Para serem bem contratados
Porque não temos dinheiro
Estamos igual a um pinto no ovo
E só se vê o grito do povo
Lamentando em desespero
Por isso, com muito zelo
Eu aqui faço um apelo
Aos promotores e convidados
Se as minhas palavras não foram corretas
Vocês perdoem esse poeta
Que digo: muito obrigado!