Notícia | 1 de julho de 2015

Um encontro entre sabores e biodiversidade no Balneário

Biodiversidade, agroextrativismo, cultura e turismo nas margens do Rio Pandeiros

Uma apetitosa e chamativa mesa estava preparada na beira do rio Pandeiros, com vários produtos a venda: farofa, castanha, óleo e doce de pequi; compota de caju; doce de panã, cabeça de nego e araticum; óleo de sucupira; geleia de tamarindo; licor de jenipapo com mel ou de coquinho azedo. Tudo isso apresentado com muito orgulho, como um dos tesouros do Norte de Minas, próximo ao requisitado Balneário do Rio Pandeiros, no município de Januária.

A simpática Vicentina Bispo, ou simplesmente Dona Tina, como é conhecida na região, estava atrás da mesinha desses deliciosos produtos do cerrado mineiro, disposta a nos relatar um pouco da curiosa e simbiótica relação entre cultura, cerrado, agroextrativismo, potencial turístico e proteção da biodiversidade. Tina é representante da Cooperativa dos Pequenos Produtores Agroextrativistas de Pandeiros, a Coopae, cujos produtores trabalham com a polpa de frutos do Cerrado, tais como o cajuí, o jenipapo, a cagaita e, principalmente, o pequi.

A história de Tina pela valorização de produtos e conhecimentos locais começou como uma “brincadeira”. “Nasceu de um desafio de cozinhar coisas diferentes num encontro de família. Achei que poderia utilizar a farinha do pequi para acompanhar o churrasco. E adivinha o que o povo mais gostou?”, me perguntou. Claro que a farofa de pequi foi o que agitou a festa de família. Ela resolveu então aperfeiçoar o produto e, assim, a brincadeira virou curso de agroindústria no Cefet. Do curso, Dona Tina tornou-se exemplo para os alunos e, a partir daí, a farinha já virou o petisco – a polpa desidratada -, e depois condimento, granulado e em pó.

Tão importante como a experiência e desenvoltura da utilização de frutos e plantas da região por esse tipo de iniciativa propostos pela Coopae e por Dona Tina, é compreender o contexto no qual está integrado o projeto desse grupo de agroextrativistas. A cooperativa está localizada na Área de Proteção Ambiental (APA) da Bacia do Rio Pandeiros, que integra a Bacia do Rio São Francisco. E a mesinha dos saborosos produtos está disposta dentro de um dos paraísos da biodiversidade e do turismo da região, o Refúgio Estadual da Vida Silvestre do Rio Pandeiros, uma das principais áreas de proteção desse importante afluente do Rio São Francisco, com suas áreas alagáveis e lagoas marginais.

Enquanto refletíamos sobre essa interligação entre natureza e desenvolvimento rural, a cooperada me alertava: “Extrativismo não mata nada da natureza, garante a preservação, garante a renda das pessoas e diminui o inchaço da cidade. O Sertanejo não sai do seu habitat para ir para a periferia”. Para completar a agradável tarde no Balneário, Marco Túlio de Araújo, atual gerente do Refúgio, em nome do Instituto Estadual de Florestas (IEF), se aproximava do estande da Copae. Antes disso, tanto Dona Tina, como Ione Gonçalves, moradora e dona do mais “badalado” bar local, explicava a importância da presença do IEF, tanto para a cooperativa, como para o próprio balneário, que há anos recebe um grande contingente de turistas sedentos pelas águas do Rio Pandeiros.

A parceria acontece por uma relação de mútuo respeito e trabalho conjunto. “Quando a comunidade abraça e aceita o esforço da gestão ambiental, ao invés de você ter um problema, você tem ainda mais ajuda, como se tivéssemos mais um fiscal do meio ambiente, mais pessoas para monitorar”. Assim, o órgão ambiental cede espaço físico para a venda dos produtos do agroextrativismo, que, por sua vez, pode expor o conhecimento tradicional e seus sabores aos turistas. Para fechar o ciclo virtuoso, o turismo, principalmente de base comunitária, potencializa a geração de renda, a autoestima e a própria proteção da biodiversidade.

Contudo, ainda muito deve ser trabalhado de forma conjunta por esses tipos de iniciativas em regiões como a do Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu. E no que depender das pessoas em volta daquela mesa, o Rio Pandeiros seguirá fluindo com qualidade, em parceira com a extração sustentável dos produtos do cerrado e com o turismo de baixo impacto!

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