A construção de um território desloca os limites do livro de cadastros, das cercas, vence recortes de tempos e de espaços e amplia fronteiras que não nos bastam ou que nos atravessam situadas em outras geografias.
Célia Xakriabá pergunta: Onde o Brasil começa? Os ribeirinhos do São Francisco, do Urucuia, das comunidades de agroextrativistas querem saber até onde caminharemos, enquanto assistem o Cerrado virar pasto e eucalipto.
Vazanteiros, geraizeiros, povos indígenas, quilombolas, barranqueiros, agricultores, pescadores, benzedeiras e tantos outros nomes quase desconhecidos para além dos Gerais: um mosaico de povos que tem como bandeira a natureza.
Nossa narrativa não é a do vazio, do que falta. A poesia nos lembra que o sertão é dentro e fora, é do tamanho do mundo. Coube a nós, editoras da Manzuá, fazer com que chegasse a um maior número de pessoas as vozes desse mosaico, que não é apenas o conjunto de pedacinhos, mas uma imagem que expande os sentidos do pertencer a esse vasto território chamado Sertão.
O Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu foi reconhecido no ano de 2009, mas sua história vem dos esforços de muitas pessoas e instituições, que buscam a gestão integrada do território, aliando as áreas protegidas – Unidades de Conservação, Terras Indígenas e Quilombos – com as comunidades tradicionais, em meio a projetos de monocultivo que têm afetado os biomas que compõem o Cerrado Central, entre Minas Gerais, Bahia e Goiás. Vale lembrar que o Mosaico é o ápice de um trabalho que começou bem antes, em 2006, pela Funatura e pelo Ministério do Meio Ambiente, com a construção do Plano de Desenvolvimento de Base Conservacionista, cuja proposta voltava-se para processos de desenvolvimento a partir do turismo, do extrativismo e da gestão das Unidades de Conservação.
Optamos pelo encantamento como ênfase da nossa linguagem. A educação à conservação nasce do afeto e do maravilhamento pelas pessoas e pelos lugares que conhecemos. O chão de nossa luta é repleto de belezas, de histórias, de poesia, de sabores, de silêncios, de fé. Mais do que conservar, desejamos fazer ressoar os caminhos propostos da base comunitária para os arranjos produtivos da cadeia do turismo, da cultura e da própria gestão compartilhada do Mosaico.
Mais do que colher resultados, queremos abrir processos. Que a Manzuá seja espaço de diálogo, de aprendizado constante sobre o mundo e sobre nós mesmos, de construção permanente de uma cartografia viva. Nosso nome tem a cor do terreiro de Dona Lourença Borges, Maria dos Santos e Jovem Santos, mulheres de força e de fé da beira da Carinhanha. Que saibamos cuidar da semente.
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Acesse aqui o arquivo em PDF da primeira edição da Revista Manzuá.
Imagens da postagem: Mariana Cabral