Notícia | 13 de novembro de 2015

Mobilização, solidariedade e descobertas – o real, no meio da travessia

Ação do Instituto Rosa e Sertão e ONG Casa Comum promove viagem de intercâmbio entre comunidades do Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu

Imagem: Mariana Cabral

Durante esta e a próxima semana, atores locais ligadas ao turismo comunitário no Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu assumirão uma dupla identidade no território. Além de representarem suas comunidades base, enquanto receptivos locais, eles estarão envolvidos também na condição de viajantes, a partir da participação de um intercâmbio criativo proposto pelo Instituto Rosa e Sertão e a ONG Casa Comum.

A “Viagem pelo Mosaico Sertão Veredas- Peruaçu: reconhecimento dos roteiros turísticos pelas comunidades de base” foi direcionada a todas as comunidades do Mosaico, em especial aos atores comunitários que participam da construção do turismo no território. A proposta envolve dois roteiros de viagens. O primeiro já está em andamento desde a última terça-feira (10/11) – “Do Grande Sertão ao Peruaçu” – com integrantes da região de Chapada Gaúcha, Serra das Araras e de comunidades como Buracos, Buraquinhos, Retiro dos Bois, Sagarana, em direção ao Parque Nacional Cavernas do Peruaçu e entorno, no município de Januária. O outro roteiro, por sua vez, realizará o caminho inverso – “Do Peruaçu ao Grande Sertão” – entre os dias 17 e 23/11.

A primeira parte da travessia no Mosaico englobou, portanto, uma visita ao receptivo familiar no Balneário do Rio Pandeiros, dentro do Refúgio Estadual da Vida Silvestre do Rio Pandeiros, administrada pelo IEF. De lá houve o deslocamento para o Fabião I, porta de entrada do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. Além da visita ao Parque e suas exuberantes cavernas, as “comunidades viajantes” tiveram contato com contadores de histórias locais, acompanharam o “Boi de Reis” e outras atrações populares, como o grupo de São Gonçalo de Fabião. A viagem ainda prevê o Circuito de Itacarambi, Brejo do Amparo, comunidade de Candeal e Terra Indígena Xacriabá.

A iniciativa é parte integrante do Projeto de “Turismo Ecocultural de Base Comunitária”, proposto no âmbito do território do Mosaico, com o fascinante objetivo de aliar turismo de base comunitária, preservação e conservação da biodiversidade e a promoção do desenvolvimento sustentável e da diversidade cultural. Desenvolvido desde 2012 pelo Instituto Cultural e Ambiental Rosa e Sertão, com sede em Chapada Gaúcha, o projeto – concebido de forma coletiva dentro do Conselho do Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu – possui apoio financeiro do Fundo Socioambiental da CAIXA.

Damiana Campos, coordenadora executiva do Rosa e Sertão, comenta sobre o processo de aprendizagem que tais experiências ensejam na região: “O desafio é compreender como se dá a lógica do território, em vários aspectos. Há uma forma diferenciada de entender e fazer turismo no Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu. O trabalho é um aprendizado que acontece na prática, que parte de algo concreto, de algo que eles estão vivendo ali no dia a dia. Aprende-se no cotidiano, depois retorna-se ao conceito, e aí voltam-se as questões reflexivas”. Damiana ainda refletiu sobre a etapa atual de construção dos roteiros: “Este intercâmbio funciona como uma espécie de ensaio, de preparação para o recebimento de visitantes, de modo que as comunidades possam se organizar por conta própria daqui em diante”.

Aproximações e trocas

O intercâmbio está ancorado em um trabalho de consultoria de pesquisa e atualização dos roteiros turísticos do Mosaico, realizado por Julia Castro e Gabriela Barros, ambas turismólogas e colaboradoras da ONG Casa Comum. Ao abranger de forma bem ampla os destinos da região, foi possível propor ao final do trabalho um roteiro completo de visitação ao MSVP, construído a partir de levantamentos e de oficinas participativas comas comunidade.

Júlia Castro esclarece que, apesar de muitas pessoas já estarem trabalhando com turismo profissionalmente no território, gerando renda com as comunidades e promovendo a atividade, elas ainda não conhecem os atrativos de regiões mais afastadas de suas localidades e não se conhecem pessoalmente. Por isso, ela destaca a importância desta última etapa da consultoria: “Durante as oficinas participativas nós percebemos que era preciso que as comunidades se reconhecessem, reconhecessem o trabalho que vendo sendo feito por outras comunidades. A troca de experiência entre elas é fundamental para que se fortaleça a ideia do turismo no Mosaico”, afirma Júlia.

Além disso, em termos de operacionalização dos roteiros era fundamental que as pessoas se relacionassem enquanto profissionais, para poderem orientar fluxos de visitantes direcionando de um ponto ao outro do Mosaico, encaminhando para os operadores de serviços e para quem está recebendo os visitantes em cada localidade. Gabriela Barros completa: “Esse intercâmbio pode afinar a comunicação para operacionalização dos roteiros. É mais uma oportunidade para a valorização política, cultural, gastronômica dessas comunidades. Há uma diversidade muito grande e a ideia é fortalecê-los a partir de um ambiente de trocas, a partir do conceito de turismo de base comunitária”, conclui.

Por isso, o próximo ciclo que parte do Peruaçu para o Grande Sertão semana que vem visa concluir este trabalho, como uma oportunidade única para experimentar os atrativos do ecoturismo no Mosaico, participar de vivências culturais e, principalmente, conhecer de perto como outras comunidades recebem visitantes e enfrentam os desafios de organização do turismo.

Viajar – mas de outras maneiras

Em termos de potencialidade turística, o Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu abriga um patrimônio natural e cultural inestimável, em riqueza e diversidade. Além da importância ambiental da região, com destaque para a riqueza da diversidade ecossistêmica do cerrado (desde o relevo cárstico do Núcleo Peruaçu e sua relevância espeleológica, arqueológica e paleontológica; até as áreas úmidas do Núcleo Pandeiros, com suas veredas que funcionam como cabeceira de drenagem dos rios; bem como as chapadas no Núcleo Grande Sertão – áreas de recarga hídrica do bioma), o contexto sociocultural também possui grande relevância para a afirmação identitária do povo brasileiro.

Neste cenário, a ideia é concentrar forças e ações no âmbito do desenvolvimento territorial e dar voz as pessoas que vivem o cotidiano do sertão. Um ambiente rico e enraizado nessas comunidades tradicionais de geraizeiros, vazanteiros, povos ribeirinhos e comunidades quilombolas, cujos corpos ganharam movimento durante a travessia de reconhecimento dos roteiros turísticos pelo Mosaico.

Por isso é hora de pensar também em propostas de turismo e de viajantes diferenciadas, trabalhadas em consonância com a visão de mundo dessas comunidades. A própria Damiana Campos relembra: “Queremos a construção de um território que abrange dentro deles vários territórios, cada um com sua singularidade e suas especificidades. Entender esse processo é também estabelecer laços, sejam eles, laços de solidariedade, hospitalidade e de amizade”.

E é com João Guimarães Rosa, cujo trabalho artístico soube expressar ficcionalmente tão sensivelmente o povo do sertão mineiro, que a essência das viagens pelo Mosaico se aproxima. A simbologia da travessia nos faz entrever algo de transcendente, da viagem enquanto transformação: “Viajar – mas de outras maneiras: transportar o sim desses horizontes”. Sigamos viagem!

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